O livro milenar chamado Bíblia é conhecido no mundo todo como A Palavra. Costumamos ouvir nas Igrejas: A Palavra diz, a Palavra aconselha, a Palavra exorta, ordena, ensina etc. Isso é muito familiar aos ouvidos de qualquer cristão comprometido com sua fé e frequentador de alguma Igreja. Mas, é totalmente estranho para aquele que não faz parte desse contexto. Por isso, faço questão de colocar aqui que me refiro à Bíblia quando uso estes termos.
A Palavra
Eugene H. Peterson, professor emérito do Regent College, em Vancouver – Canadá, diz o seguinte: Esse livro (a Bíblia) nos torna participantes no mundo da existência e da ação de Deus; nós não participamos dele em nossos próprios termos. Não elaboramos a trama nem decidimos qual será o nosso personagem. Esse livro tem poder gerador: coisas acontecem conosco quando permitimos que o texto nos inspire, nos estimule, repreenda, apare as arestas. Ao chegar ao fim desse processo, não somos mais a mesma pessoa.
“Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.” Isaías 7.14
Mais de setecentos anos após Isaías ter profetizado isto, um anjo aparece a uma moça de uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré. A moça já estava prometida a um homem da casa de Davi, José, que ainda não havia recebido-a como esposa, sendo ela, portanto, ainda virgem. Não duvide disso não, naqueles tempos qualquer deslize nessa área poderia acabar em morte, ninguém brincava muito com essas leis; a honra era um caso sério. Ao receber a visita do anjo este lhe diz: “Alegra-te muito favorecida! O Senhor é contigo.” Ao ouvir a saudação, Maria se perturba, pois não entende o significado daquelas palavras. O anjo, porém, lhe explica que ela havia achado graça diante de Deus e que conceberia pelo poder do Espírito Santo e teria um filho que seria grande, e Deus lhe daria o trono de Davi. Seu reinado sobre Israel jamais teria fim e este ente santo seria chamado de Filho de Deus. Em seguida o anjo comenta que uma parente de Maria, Isabel, que era estéril, estava também grávida, sendo já seu sexto mês de gravidez, para aquela que diziam ser estéril; e termina dizendo: “Pois para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas.” Maria nem sequer cogitou sobre os porquês de Deus e muito menos sobre o seu poder para fazer acontecer tal coisa da maneira como o anjo havia lhe anunciado. A única coisa que ela disse, em uma manifestação de fé muito bem arraigada, de submissão e de reconhecimento do seu lugar e alcance nesta história foi o seguinte: “Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela” (Lc 1.38, grifo meu).
A concepção aconteceu, conforme a informação do anjo, pelo poder do Espírito Santo de Deus e sem a ajuda do espécime masculino da humanidade. (Pg 169-170 do livro Sangrando até à vida)
Sempre pensei em Maria com admiração e com aperto no coração pelo fato de ela ter carregado esse bebê tão especial em seu ventre para entregá-Lo ao mundo e depois ver o mundo se voltar contra Ele com ódio e fúria irracionais e totalmente imerecidos por um Ser que era (e é) puro Amor. Já no nascimento de Jesus, quando Maria e José receberam a visita dos pastores de Belém, ela soube das coisas que os pastores ouviram do Anjo a respeito de Jesus segundo registro em Lucas 2.17-19. Todos os que estavam presentes na ocasião ouviram os mesmos relatos e ficaram admirados, Maria, porém, “guardava todas estas palavras, meditando-as no coração” (verso 19). Fico imaginando o temor e a curiosidade que podem ter invadido o coração daquela mãe ao ouvir tantas coisas impressionantes sobre seu bebezinho que lhe parecia no momento tão indefeso e carente dos seus cuidados.
Ela criou aquele filho sabendo que Ele seria uma surpresa para ela no futuro, pois até Simeão, um homem cheio do Espírito Santo, profetizou que ela teria “uma espada traspassando sua própria alma” por causa daquele filho. (Lc 2.35)
Quando Jesus, já com doze anos, desapareceu de perto dela e de José, em Jerusalém, onde estavam para a Festa da Páscoa, eles o encontraram discutindo com os “doutores da lei” no templo. Maria lhe diz: “Filho, por que fizeste isso conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura.” Jesus respondeu: “Por que me procuravam? Não sabiam que me cumpria estar na casa de meu Pai?" Maria e José não entenderam essa resposta de Jesus, mas, vemos no verso seguinte que “Maria, porém, guardava todas estas coisas no coração” (Lc 2.41–51). Em suma: Deus conhecia o espírito de Maria e sabia que ela era humilde e sábia o suficiente para apenas “guardar as coisas no coração” sem questionar, intuindo que havia um plano superior em tudo isso e sabendo também que, nisso tudo, ela era apenas uma serva do Altíssimo, como ela mesma se intitulava (ver o cântico de Maria em Lc 1.46). (Pg 171 do livro Sangrando até à vida).
Já aos doze anos, Jesus demonstrava que não seria dependente da mamãe e do papai em muita coisa que para as crianças da Sua idade seria o natural. Mais tarde, já na idade adulta, Jesus também teve que demonstrar em outras situações que Ele não dependia da mamãe. Maria percebia muito bem isso pois era guiada pelo Espírito Santo e sabia como lidar com a situação que era atípica, porém anunciada em seu próprio espírito pelo Espírito Santo e, portanto, conhecida dela.
Ela sabia que seria considerada bem-aventurada por ter a honra de carregar um fruto gerado nela pelo Espírito Santo, mas jamais passaria pela cabeça de Maria ocupar um lugar que não lhe pertencia, além daquele designado pelo próprio Deus a quem ela servia com fidelidade e devoção. Maria, em sua pureza de sentimentos e de fé, jamais cogitou dividir a glória de Deus por tê-lo carregado em seu ventre e nem tampouco tinha ela pretensões de fragmentar a fé dos seres humanos que deveria ser depositada por inteiro em Deus, pois ela tinha ciência de que Deus, para continuar sendo Deus, não poderia dividir sua adoração com ninguém. (Pg 171 – Sangrando até à vida).
Assim veio ao mundo e viveu entre nós o Verbo da Vida, Poderoso, Independente, Amoroso, Pacificador, Autossuficiente, Vencedor, Sofredor, porém, Deus acima de tudo e de todos. Maria entendeu muito bem isso logo cedo. Quanta honra, mas também quanta dor ela enfrentou, tudo porque Deus a conhecia e sabia que ela poderia ser o instrumento d’Ele para enviar o Amor divino personificado à Terra para resgate de toda a humanidade. Este é o Natal, uma história de amor e dor, mas linda e principalmente vital para nós, seres humanos.